Você se sente constantemente sobrecarregada? A sua lista de tarefas mentais parece nunca ter fim, e a sensação de estar sempre “correndo atrás” é a trilha sonora da sua vida? Talvez você já tenha recebido diagnósticos de ansiedade ou depressão, ou simplesmente tenha se conformado com a ideia de que é “desorganizada”, “procrastinadora” ou “sensível demais”. Por anos, a cultura e até mesmo a medicina reforçaram essa imagem. Mas e se a raiz de tudo isso for outra?

Como psiquiatra, minha missão é oferecer uma escuta atenta e um olhar que vá além do óbvio, buscando o diagnóstico e o tratamento adequados que um dia também foram necessários para mim. E o que tenho visto com frequência crescente no consultório são mulheres brilhantes, competentes e exaustas, que passaram a vida inteira lutando contra um inimigo invisível: um Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que nunca foi diagnosticado.

Este é um espaço seguro para explorarmos juntas essa realidade.

Por que o TDAH em Mulheres é um Desafio Diagnóstico?

A imagem clássica do TDAH é a do menino que não consegue parar quieto na cadeira, que interrompe os outros e age por impulso. Essa visão estereotipada, embora real para muitos, deixou gerações de meninas e mulheres fora do radar diagnóstico.

O Mito do Menino Hiperativo

O viés de gênero na medicina e na psicologia fez com que os critérios diagnósticos e a percepção social do TDAH fossem construídos em torno das manifestações mais externalizadas, comuns no sexo masculino. Meninas com TDAH, por outro lado, frequentemente apresentam um quadro diferente, mais sutil e internalizado.

A Predominância da Desatenção e do Caos Interno

Enquanto a hiperatividade nos meninos é física e visível, nas meninas, ela muitas vezes se manifesta como uma intensa inquietação mental. Socialmente, as meninas são frequentemente encorajadas a serem mais contidas e quietas, o que as leva a mascarar seus sintomas desde cedo.

As manifestações mais comuns em mulheres incluem:

Os Disfarces do TDAH: Ansiedade e Depressão como Comorbidades

É aqui que o diagnóstico se torna ainda mais complexo. Uma vida inteira se sentindo inadequada, lutando para cumprir prazos e recebendo críticas por esquecimentos ou desorganização, gera consequências. Não é de surpreender que mulheres com TDAH não diagnosticado frequentemente desenvolvam quadros de ansiedade e depressão.

Elas chegam ao consultório com queixas de preocupação excessiva, ataques de pânico, tristeza profunda ou falta de energia. Um profissional menos atento pode tratar apenas esses sintomas (a ansiedade, a depressão) sem perceber que eles são, na verdade, a fumaça de um incêndio maior: o TDAH. Parte do meu trabalho é realizar essa anamnese completa, dedicando o tempo necessário para entender a história completa e diferenciar a causa da consequência.

A Jornada para o Diagnóstico: Um Guia de Acolhimento

Receber um diagnóstico de TDAH na vida adulta pode ser um misto de alívio (“Finalmente eu me entendo!”) e luto (“Por que ninguém viu isso antes?”). É o início de uma nova jornada de autoconhecimento e cuidado. Se você se identifica com o que leu até aqui, estes são alguns passos práticos:

  1. Valide a sua Experiência: O primeiro passo é se permitir considerar a possibilidade. Reflita sobre sua história desde a infância. Você era a menina quieta que vivia no mundo da lua? Tinha dificuldade em manter o quarto arrumado? Suas notas eram inconsistentes, brilhantes em matérias de interesse e ruins nas outras?
  2. Busque uma Avaliação Especializada: Procure um psiquiatra com experiência em TDAH em adultos. Uma avaliação criteriosa não se baseia em um simples questionário. Ela envolve uma conversa profunda sobre sua história de vida, seus desafios, suas potencialidades e o impacto dos sintomas em diversas áreas da sua vida. É sobre construir um vínculo de confiança.
  3. Entenda as Ferramentas de Tratamento: O tratamento para o TDAH é multifacetado e vai muito além da medicação. Ele geralmente envolve uma combinação de:
    • Psicoeducação: Entender como seu cérebro funciona é o passo mais libertador.
    • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a desenvolver estratégias práticas para lidar com a procrastinação, a desorganização e a regulação emocional.
    • Medicação: Quando indicada, a medicação pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar o foco, a atenção e diminuir a impulsividade, abrindo espaço para que as outras estratégias funcionem.
    • Mudanças no Estilo de Vida: Rotinas, exercícios físicos e sono de qualidade são pilares fundamentais.

Receber um diagnóstico tardio não significa que há algo de errado com você. Significa que você esteve jogando a vida no “modo difícil” sem saber. Agora, você tem a oportunidade de ter um manual de instruções para o seu cérebro, de se tratar com mais compaixão e de construir uma vida que funcione para você, e não contra você.

Minha missão é oferecer o acolhimento e o suporte para essa jornada, garantindo uma escuta empática e um plano de cuidado que finalmente traga alívio e bem-estar para a sua vida.

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